PENSO, LOGO EXISTO (cogito ergo sun)

 PENSO, LOGO EXISTO (cogito ergo sun)



Essa sentença é considerada por René Descartes, no seu Discurso sobre o Método (São Paulo: Hemus, 1978), como o 1º princípio da sua filosofia (p.66). Para ele somente a matemática é a razão de ser da ciência. Ou seja, isso representa a arrogância materialista de auto-criação: eu penso e logo sou ou existo. Só quem pode falar assim é Deus. 


De onde surgiu essa ideia? Ela foi gerada no ano 666 d.C. na Universidade de Gundishapur (Grande Monarca Pur) na Pérsia (Irã) e depois levada para a Casa da Sabedoria do califado de Hahrum al-Rahid em Bagdá e finalmente entrou na Europa com a invasão moura (e sunita, que são os seguidores desse califa). 


Esse impulso deu sequência no ano 1600 com Francis Bacon na Inglaterra (pai da ciência indutiva) e René Descartes na França (se considerava dedutivo), quando começou a época da “alma da consciência” (que deve durar até o ano 2400), da supremacia do Ego: “conhecimento é poder”, dizia Bacon. Em seguida vem a Revolução Industrial e as grandes máquinas. 


Mas, ao excesso de materialismo dos séculos passados está surgindo algo novo — o mundo “virtual” (digital), como processo polar compensatório. Parecem incongruentes, como óleo e água, que não se misturam — só que essas duas qualidades (materialismo e virtual) fazem parte da alma da consciência, pois o Ego se subdivide em “Dóxa - Phantasie - Dianóia” (Platão). 


Só que os polos estão se dando as mãos: materialismo (ahrimânico) com virtual (luciférico) — vide a escultura Representante do Homem, de Steiner (abaixo) — com potencialidade letal para o futuro da humanidade; e está sendo adorado como progresso científico: “Metaverso” = criação de um mundo virtual que espelha a vida real. 


Enquanto Bacon continua afundando o ser humano na matéria (como Dóxa ou super-ego), Descartes faz uma retratação magistral no seu livro: “E notando eu que, em ‘penso, logo existo’, não há nada que me garanta que eu esteja dizendo a verdade, do mesmo passo que vejo com clareza que, para pensar, é preciso existir” (p.68). Ou seja, Descartes cai na real e se retrata: “para pensar é preciso que eu tenha sido criado”. Ele representa uma ala dos materialistas que tem sensibilidade (Phantasie). 


Ao mesmo tempo que temos que agradecer pelos progressos científicos da “era da consciência”, não podemos ficar refém desta época, pois o “abismo” se escancara à nossa frente. Temos que subir o último degrau da evolução do pensar (Dianóia), que é o dedutivo goethiano, para acessar o pensar espiritual — o Cristo. 


Antonio Marques

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