LUZ e TREVA — II
LUZ e TREVA — II
“O pensamento que vive em nós vem do passado — o pensamento é o mais amadurecido em nós, o resultado de vidas terrestres passadas. O que antes era vontade (vivia na treva), torna-se pensamento e este se mostra como luz. Portanto, o mundo do passado extingue-se no pensamento (ou seja, extingue-se na luz). O universo é permeado de luz e na luz vive o pensamento. Na luz permeada de pensamento vive um mundo em extinção. Ao extinguir-se o universo torna-se belo. O universo não se torna belo quando não pode morrer; ao morrer ele brilha. A beleza é o reflexo a partir do brilho luminoso do universo em contínua extinção”. Steiner (GA 202).
Vontade —> luz —> pensamento
Vimos atrás que o “espírito” é luz e nosso “pensar puro” é luz — ambos se misturam dentro da minha luz, que sou Eu em espírito. Só que esse pensar não tem a ver com minha realidade aqui na Terra. Por isso Fichte fala: preciso sair do “pensar puro” e descer ao “pensar empírico”, para me realizar no mundo e agradecer pelo progresso cultural da humanidade. E isso acontece quando a luz se choca com a escuridão (treva): aí nasce a cor (Goethe).
Na criação (“Faça-se a luz”) a luz expandiu para a periferia e criou o espaço. A luz ao tocar a treva (escuridão ou Vontade Divina) nasceu o Universo visível.
O mesmo acontece com nosso pensamento humano: é preciso que a luz (o pensamento) penetre na treva (na vontade) para nascer o pensar consciente ou empírico ou egóica (Ego). Ou seja, “o pensamento surge como aquilo que, na evolução da humanidade, é o resultado da contínua metamorfose da vontade. No passado tínhamos o caráter volitivo. A vontade é o germe do pensamento. Pode-se dizer que a vontade se desenvolve paulatinamente em pensamento” ( idem).
“E os membros atuais nos remeterão à vida terrestre futura. Nos membros atuais suas forças irão se metamorfosear em futura cabeça. A vontade vai se tornando cada vez mais densa até se formar a matéria. A matéria é o lado externo da vontade (interiormente matéria é vontade) como a luz interiormente é pensamento. Quando mergulhamos na natureza da vontade, revela-se a natureza da matéria. Não existem átomos nem moléculas — mas sim vontade, a qual está sempre germinando” (idem).
“O mundo está cercado de luz, reflexo do passado que se extingue na luz. A beleza resplandece em pensamento na luz. No brilho da beleza extingue-se o mundo do passado. O mundo desabrocha com sua força, sua potência, seu poder, mas também com suas trevas. O mundo vindouro desabrocha no elemento volitivo material” (idem).
“O mundo exterior é constituído de passado e em seu interior ele não porta moléculas e átomos e sim o futuro. O passado é o que resplandece na beleza da luz (som, calor etc). A luz é o que irradia do passado e a escuridão é o que remete ao futuro. A luz é de natureza pensante e a escuridão é de natureza volitiva” (idem).
Exemplo de Steiner para ver essa transição: a árvore em flor traduz o passado, mas ela irá se transformar em frutos — e assim desenvolve-se rumo ao futuro. No círculo das cores de Goethe nós somos a cor de “flor de pessegueiro” e olhamos o mundo visível manifesto à frente, tendo o verde como representante da natureza (no centro). Ou seja, caminhamos do vermelho ao azul; e assim devagar vamos construindo novos mundos… até o violeta.
Lembrando que das trevas surge Ahriman, que deve ser tocado pela luz (através do nosso perdão), pois ele deve participar no futuro como mal redimido.
Antonio Marques
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